Dono da Scala e da Highline planeja ser o maior provedor de infraestrutura digital da América Latina
Torres de celular, redes de fibra ótica e data centers formam os pilares do grupo americano Digital Colony para se tornar o maior investidor em infraestrutura digital da América Latina. Além de ter arrematado as torres da Oi por R$ 1 bilhão, em leilão vencido na quinta-feira por sua controlada Highline, o grupo avança na construção de data centers no Brasil, Chile e México por meio de sua empresa Scala Data Centers, e aposta em energia renovável para abastecer as operações.
“A pandemia só reforçou a nossa tese de que a combinação de data center, fibra ótica e torres de celular é o que movimenta a economia”, diz Marcos Peigo, CEO da Scala Data Centers e sócio da Digital Colony na América Latina.
Até 2026, a Scala vai investir em quatro novos data centers em seu campus Tamboré, em Barueri (SP), onde já se localiza seu primeiro centro de dados. A empresa já garantiu 150 mil m2 no local e deverá contar com uma capacidade total de 117 megawatts, sendo 86,6 MW com as novas operações. Megawatts é a medida mais usada para dimensionar o negócio de provisão de infraestrutura de data centers, com o qual a Scala trabalha.
A companhia não revela investimentos, mas o Valor apurou que gasta-se, em média, US$ 7 milhões por megawatt para erguer uma infraestrutura de data center. Considerando esse valor, os investimentos no campus devem ficar ao redor de R$ 3 bilhões.
Os recursos vão se somar aos cerca de R$ 2,3 bilhões já aplicados este ano pela Scala na compra e modernização dos dois centros de dados que pertenciam à UD Tecnologia, da UOL Diveo. Um segundo campus, além de Tamboré, deve ser anunciado pela companhia no interior de São Paulo em 2021.
O modelo de negócio da Scala é oferecer toda a infraestrutura – espaço, fornecimento de energia, conexão de alta velocidade etc – para acomodar máquinas de grandes provedores de serviços de computação em nuvem como Amazon, Google e Microsoft, integradores e grandes empresas como bancos, seguradoras e corretoras.
No primeiro trimestre de 2021, o terceiro data center da empresa, o SP3, entra em operação em Tamboré dedicado a um grande provedor de serviços de nuvem. O campus ainda conta com duas subestações de transmissão e distribuição de energia dedicadas e um centro de controle para a América Latina.
“Estamos olhando para um mercado ainda mal servido em relação à capacidade”, diz Peigo. “Somente 20% a 25% das cargas de dados empresariais migraram para a nuvem. Isso justifica um potencial de crescimento grande”, afirma o CEO da Scala.
A empresa também inicia a construção de dois campi no Chile e outros dois no México. Segundo Peigo, a expectativa é ativar um data center em cada país no terceiro trimestre de 2022, com 32 MW de capacidade inicial cada. No total, a empresa planeja ter oito data centers e duas subestações de 150 MW dedicadas em cada país.
Para selecionar os terrenos nos dois países em plena pandemia, a empresa contou com o suporte de consultorias, empresas de engenharia locais e até do Google Earth. “A pandemia trouxe todas as dificuldades que você imagina de levantar capital, fazer contratações e selecionar os terrenos, mas foi um aprendizado tremendo”, diz o executivo.
A concorrência também está expandindo suas atividades no mercado latinoamericano. Na última semana, a Ascenty inaugurou o primeiro data center fora do Brasil, em Santiago, e a operação de um segundo em Vinhedo (SP), onde seu campus chega a 70 MW de capacidade. A Ascenty conta com 17 data centers em operação e anunciou a construção de outros cinco, incluindo um segundo na capital chilena, dois no México, além de unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Outra concorrente, a Odata, que pertence ao fundo Pátria Investimentos – o mesmo que vendeu a Highline à Digital Colony em dezembro do ano passado – vai construir uma unidade no México, com início esperado para 2022. A Odata possui três data centers no Brasil, um na Colômbia e também pretende entrar no Chile.
Reduzir o consumo de energia e trabalhar com fontes renováveis é uma preocupação da Scala, que pretende tornar este um diferencial para seus clientes. “A empresa é a primeira das Américas a fechar um contrato com certificado de emissão de energia 100% renovável”, afirma Peigo.
O acordo de dez anos foi firmado com a AES, no Brasil, e com a Engie, no Chile, no valor mínimo de R$ 400 milhões. “Isso custa dinheiro, muda o patamar do mercado só que é um compromisso nosso dentro da nossa diretriz de Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG na sigla em inglês)”, observa o executivo.
A companhia, que contratou 100 pessoas nos últimos seis meses e deve chegar a 163 colaboradores no fim do ano, também fechou uma parceria com o Senai para treinar estudantes de nível técnico e abrir um programa de estágio vinculado ao curso. Marcos Peigo prevê que 100 jovens tenham acesso à teoria com profissionais da Scala e do Senai e à parte prática nos data centers da empresa.
O ambicioso grupo americano que controla a Scala e a Highline tem como meta fazer a transformação digital de seus ativos. A movimentação começou em 2017 com a cocriação do fundo de investimentos Digital Colony Partners, pela Digital Bridge Holdings, gestora de ativos de infraestrutura digital, aliada à Colony Capital Inc., empresa de investimentos de capital aberto na bolsa de Nova York (NYSE) que tem o mercado imobiliário entre seus ativos-chave.
Em julho de 2019, a Colony Capital decidiu adquirir a Digital Bridge, transformou a Digital Colony em subsidiária e colocou seu fundador, Marc Ganzi, no comando da Colony Capital, em mais um indício de que os ativos digitais são prioridade no grupo.
Tom Barrack Jr., que ergueu a Colony em 1991, deu o lugar a Ganzi e segue como presidente do conselho da empresa. Peigo explica que a estratégia pública da Colony Capital é ter 90% dos seus ativos totais investidos em infraestrutura digital gerida pela Digital Colony até o fim de 2021.
A carteira de ativos digitais representaria R$ 41,4 bilhões considerando o total de R$ 46 bilhões até o fim de setembro. “O valor deve ser ainda maior considerando novas captações e o crescimento do nosso portfólio”, diz o sócio da Digital Colony.
Em maio, segundo informações da Bloomberg, a Digital Colony abriu uma segunda rodada de captação de investimentos de mais de US$ 6 bilhões. O grupo já havia feito uma primeira captação de US$ 4,05 bilhões em junho do ano passado.
Fonte: Valor Econômico