Companhias chinesas e americanas veem no Brasil potencial para investir nessa infraestrutura
Diante do aumento na demanda por serviços de nuvem – como é chamado o processamento computacional remoto – e a expectativa de avanço da estrutura de provedores chineses no Brasil, empresas especializadas em construção de grandes centros de dados no país, como Ascenty, Equinix, Odata e Scala, dizem que 2021 foi um ano de alta demanda e 2022 não será diferente.
Além do aumento das estruturas de grandes provedores americanos (AWS, Google, Microsoft, IBM, Oracle, entre outros), que contratam operações no interior de São Paulo e no Rio de Janeiro, os planos de expansão contemplam a expectativa sobre operações de gigantes chineses.
A Huawei, que começou a oferecer serviços de nuvem no Brasil em 2016, usando a estrutura da operadora Vivo, e partiu para data centers próprios, em novembro de 2019, é um dos clientes das empresas que constroem essas estrutura no país. Hoje, a Huawei tem dois data centers na cidade de São Paulo e sinaliza avanços para 2022. “Temos um plano de expansão agressivo, mas não podemos abrir ainda essa informação ao mercado”, disse a empresa ao Valor.
A também chinesa Tencent, um dos maiores provedores de serviços de internet do mundo -, dona da Riot Games, criadora do jogo on-line ‘League of Legends’ – inaugurou o primeiro centro de nuvem no país, em novembro. À época, a empresa informou que o data center de São Paulo atenderá empresas no Brasil e em outros países da América Latina, como parte de uma rede global da Tencent Cloud, em 27 regiões.
O Brasil também está na mira da divisão de nuvem do gigante Alibaba. O Valor apurou que o país é um ponto-chave para o Alibaba Cloud, que hoje atua em 70 países, incluindo duas infraestruturas de data centers nas costas Leste e Oeste dos Estados Unidos, mas ainda sem operações na América Latina.
Maior provedor de infraestrutura de nuvem pública como serviço (IaaS, na sigla em inglês) da China, o Alibaba ficou com a terceira maior fatia do mercado mundial de nuvem em 2020 (9,5%), segundo dados da consultoria Gartner. A AWS, em primeiro, deteve 40,8%, seguida pela Microsoft, com 19,2%. A Huawei estreou no ranking dos cinco maiores provedores em 2020, na quinta posição, com 4,2% de participação, atrás do Google, em quarto, com 6,1%.
Os planos do Alibaba para o Brasil, entretanto, ainda não têm prazo. Hoje, o grupo atua no país por meio do ‘marketplace’ (shopping virtual) AliExpress e, mais recentemente, pela empresa de logística Cainiao, que chegou ao país, no ano passado, para atender o AliExpress.
Após a corrida pela digitalização de negócios no início da pandemia, 2021 foi um ano de consolidação e expansão de projetos, o que elevou a demanda para os data centers terceirizados. “Todo o movimento de digitalização das empresas se consolidou em 2021”, diz Eduardo Carvalho, diretor-geral da Equinix no Brasil. “Na contramão da economia e do mercado, todos os segmentos de mercado elevaram os investimentos em nuvem no ano passado”, afirma.
A migração dos dados e aplicativos das empresas para a nuvem também reflete a busca por redução de custos com manutenção de máquinas, espaço para ampliar operações e preocupação com a resiliência da rede.
“Visitei um cliente na região da Avenida Paulista, em São Paulo, que colocou servidores parrudos na recepção do escritório porque mantinha toda a infraestrutura de dados internamente, mas ficou sem espaço”, afirma Marcos Siqueira, vice-presidente de operações da Ascenty.
A empresa, que tem o maior número de data centers ativos no país – 18 operações desde sua fundação, em 2010 – investiu R$ 160 milhões em mais dois data centers em Hortolândia, no interior de São Paulo, e no Rio de Janeiro. Este ano, inaugura seu quinto data center em Hortolândia.
Para criar zonas de resiliência, com mais de um centro de dados como porto seguro, a expansão dos data centers brasileiros tem se concentrado em cidades próximas à capital paulista, como Barueri e Osasco, e interior próximo, como Hortolândia, Vinhedo e Santana de Parnaíba.
“Essas regiões se desenvolveram porque se adequaram muito bem aos requisitos dos clientes, com terrenos de bom tamanho, boa oferta de energia e de conectividade”, explica Fernando Jaeger, diretor de Novos Negócios da Odata.
Outro critério importante para manter a redundância das operações é que os data centers estejam em distâncias mínimas entre si de 20 a 50 quilômetros. A distância também é fundamental para assegurar a menor latência de dados, ou tempo de resposta, que é uma das promessas das novas redes 5G para o país. “A ‘latência zero’ é tão importante para um data center como para um carro autônomo”, compara o executivo. “Se a resposta tiver de ir até os Estados Unidos e voltar, o carro vai bater”.
Com a chegada do 5G, a Scala Data Centers, do grupo americano DigitalBridge, também olha para os data centers de borda, fora da região Sudeste, com planos de construção em Porto Alegre e no Recife, para reduzir a latência de rede, e prepara suas operações para a segunda onda de demanda.
Assim como o Facebook, que é um grande cliente dos data centers, os exemplos potenciais de segunda onda incluem multinacionais que operam no Brasil como o marketplace Shopee e a plataforma de vídeos TikTok.
“São grandes consumidores de serviços de nuvem, que ainda não têm infraestrutura local”, diz Marcos Peigo, CEO da Scala e sócio da DigitalBridge.
O plano agressivo de expansão se concentra em levantar data centers inteiros dedicados a um único provedor de serviços. A empresa começou a operar em abril de 2020, com a proposta de investir mais de R$ 2 bilhões até o primeiro trimestre deste ano.
“Os provedores de ‘cloud’ passaram a pensar no longo prazo e estão vindo para cá porque esgotaram a capacidade de expansão”, afirma o executivo.
Fonte: Valor Econômico